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ESTREITAR LAÇOS

Bernardo Paz revela como Inhotim vem se preparando para o futuro

Empresário diz que a nova diretoria e o conselho curador apostam em modelo de governança que vai fortalecer os laços do instituto com a sociedade

Publicado em 20/06/2022 às 14:30
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(Foto: Brendon Campos/divulgação)

Criador do Instituto Inhotim, o empresário e colecionador Bernardo Paz já planeja os próximos 10 anos do espaço de arte contemporânea de Brumadinho, aberto ao público em 2006. “Novos lagos, expansão da área de visitação, expandir a rede hoteleira para abrigar mais visitantes na região”, enumera. Para garantir o futuro, há novo sistema de governança com a contribuição do conselho deliberativo presidido por ele, com a participação dos empreendedores Guilherme Teixeira, Betania Tanure, Ricardo Guimarães e Rubens Menin. Lucas Pessôa é o novo diretor-presidente do Instituto, atuando em parceria com a diretora vice-presidente Paula Azevedo e a diretora-artística Julieta González. “Inhotim é o único museu brasileiro conhecido mundialmente”, diz Bernardo Paz. “Mais do que um museu ou um jardim botânico, é um lugar no mundo”, reforça. Nesta entrevista, ele explica as mudanças que implantou.

O que o faz acreditar que este é o momento certo para a doação que inaugura uma nova etapa na história de Inhotim?

A doação é parte de um projeto de vida, o Inhotim, que foi se ampliando ao longo dos anos. O Inhotim nasceu a partir do meu colecionismo, que começou nos anos 1980, e aos poucos se abriu ao público. Foi já no meio da década de 1980, a partir da minha convivência com Burle Marx, que comecei a sonhar com um lugar único no mundo, que unisse natureza e arte como parte de um só projeto. 2006 marca esse início, com a abertura à visitação pública e o desenvolvimento de programas socioeducativos envolvendo a comunidade de Brumadinho e grupos escolares e de professores. A doação é uma consequência natural, Inhotim não é meu, Inhotim é de todo mundo. E para garantir o futuro do Inhotim é necessária uma governança forte e contributiva, é preciso que a sociedade abrace o Inhotim.

De que forma o projeto O Inhotim de Todos e para Todos pretende democratizar o acesso e ampliar a programação artística e socioeducativa do espaço?

O Inhotim de Todos e para Todos reforça a vocação pública do Instituto. Esse projeto nasceu com a chegada da nova diretoria que escolhi a dedo, formada por Lucas Pessôa (diretor-presidente), Paula Azevedo (diretora vice-presidente) e Julieta González (diretora-artística). Está sendo implementado um modelo de governança mais moderno, que dá continuidade ao processo de institucionalização em curso desde a abertura do Inhotim, em 2006. O Inhotim de Todos e para Todos visa fortalecer o Inhotim e torná-lo ainda mais ativo, aberto e permeável a toda a sociedade. Para isso, teremos uma programação pública e artística mais dinâmica, colaborações com outras instituições, um relacionamento mais profundo com as comunidades locais, além de manter o colecionismo ativo, prática fundamental para toda instituição de arte contemporânea.

O senhor esperava que o Instituto Inhotim trilhasse o percurso que trilhou desde a abertura para o público, há dezesseis anos, até o presente momento?

Inhotim é um sonho cultivado há muitas décadas, eu só não falava para ninguém porque, se eu contasse, iam me achar louco. Tinha uma ideia, desde o começo, de que estava fazendo uma coisa muito diferente, trabalhando com as várias áreas da cultura e do meio ambiente, que seria uma coisa única. E realmente isso aconteceu, as pessoas saem de todas as partes do mundo para virem ao Inhotim. Isso nos deixa muito orgulhosos.

Sua coleção de arte contemporânea é considerada uma das maiores e mais importantes do Hemisfério Sul. Quando e como ela começou a ser formada?

Há 25 anos. Inhotim estava ainda no começo quando conheci Marian Goodman, galerista americana que é ícone do mundo da arte. Ela me aconselhou a ter uma assistência para a formação de uma coleção, e me indicou o Allan Schwartzman, cofundador do Inhotim, que entrou em 2002. Juntos começamos a trazer artistas para a construção de trabalhos aqui. A primeira obra que Allan indicou foi do Matthew Barney (“De lama a lâmina”, 2009), depois o “Beam Drop Inhotim” (2008), do Chris Burden, e assim por diante.

Qual foi o papel do artista plástico Tunga na construção e idealização do acervo formado no Inhotim?

Tunga está na origem do Inhotim, acompanhou sua criação desde o início. Conheci Tunga em 1999, eu o considero o artista mais inteligente que conheci na vida, apesar da loucura dele. Lembro-me de ter ido na casa dele, no Rio de Janeiro, ele me atendeu de pijama, assustado e desconfiado, ele não estava entendendo nada. Já nesse primeiro encontro comprei algumas obras dele. O Inhotim estava começando, a True Rouge (2002) foi a primeira galeria de artista do museu e mais tarde veio a Galeria Psicoativa Tunga (2012). O Tunga era um artista completo. Foi um grande amigo.

O acervo que o senhor está doando reúne trabalhos inéditos, nunca expostos no Inhotim. Quais obras e artistas fazem parte desse rol?

Doei tudo que eu tenho para o Instituto, as galerias, o jardim botânico e toda minha coleção, incluindo trabalhos inéditos, que nunca foram apresentados em exposições. Muitas dessas obras foram adquiridas recentemente com a intenção de tornar a coleção do Inhotim mais diversa e plural, com artistas como Arjan Martins, Arthur Jaffa e Rosana Paulino, entre outros.

Como a nova governança do Inhotim vai impactar o público visitante? O que muda, na prática, para esse contingente?

Inhotim vai ganhar uma programação mais dinâmica pela direção artística liderada por Julieta González. Então, o público pode esperar por mais novidades e exposições mais frequentes. Também está nos planos o fortalecimento do educativo, com atuação mais presente na comunidade de Brumadinho e a ampliação da gratuidade. Hoje, temos entrada gratuita na última sexta-feira do mês, a ideia é ampliar isso, abrir mais o Inhotim, torná-lo mais acessível.

O que muda na relação do Inhotim com a região de Brumadinho e as comunidades do entorno?

Desde o início do Inhotim, temos uma relação muito próxima com Brumadinho e as comunidades do entorno. Formamos muita gente da região e hoje cerca de 80% dos funcionários do Instituto são de Brumadinho, muitos estão comigo desde que Inhotim começou. Temos um impacto enorme no entorno. Esse movimento de fortalecimento do Inhotim acaba beneficiando toda a comunidade, seja pela nossa atuação direta com programas socioeducativos que integram a comunidade local, seja indiretamente pelo aumento do fluxo de visitantes, que se amplia a partir de uma programação mais ativa e que impacta o turismo e toda uma rede de serviços da região. Inhotim é uma história da qual muitas pessoas fizeram e fazem parte: funcionários, colaboradores, visitantes. E que cada vez mais pessoas devem fazer.

O que orientou a formação do novo conselho deliberativo? Como se deu a escolha dos nomes que o compõem?

Inhotim é uma instituição com relevância nacional e internacional. Os conselheiros refletem isso. São representantes da sociedade de diferentes áreas de atuação e regiões do Brasil, que vão colaborar e fortalecer o Inhotim a partir das suas experiências e relações, ajudando a construir sua sustentabilidade no futuro. Apesar da presença de representantes de diversas regiões, fizemos questão de manter uma forte presença mineira. Eu sigo como presidente do conselho deliberativo, tendo como vice-presidente o empresário mineiro Eugênio Mattar, além de outros mineiros como Guilherme Teixeira, Betania Tanure, Ricardo Guimarães e Rubens Menin, entre outros. É um grupo que abraçou o Inhotim e vai atuar como seu guardião. Eles representam a participação da sociedade civil e nos ajudarão a fazer o Inhotim ser, ainda mais, um lugar de todos e para todos.

Como o senhor imagina Inhotim daqui a 10 anos?

Já comecei a fazer os próximos 10 anos. Novos lagos, expansão da área de visitação, expandir a rede hoteleira para abrigar mais visitantes na região. O Inhotim tem um papel importantíssimo na formação de profissionais, desde sua criação, e vai continuar tendo. Outra medida que acaba de ser tomada para o futuro do Inhotim é a instituição desse novo conselho deliberativo. São muitas cabeças, de profissionais muito relevantes, que vão, juntos, garantir a continuidade do projeto.

O que Inhotim representa para Minas Gerais e para o Brasil?

Inhotim é o único museu brasileiro conhecido mundialmente. Lá fora, em qualquer país, todos têm o sonho de nos visitar. Isso para o público. Para os artistas, Inhotim é a possibilidade de realizar os trabalhos mais incríveis, que em outros museus não são possíveis. Inhotim é mais do que um museu ou um jardim botânico, é um lugar no mundo.

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