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INVASÃO HACKER

Grupo de hacker Anonymous assume invasão ao site da Prefeitura

Ao invadir, grupo deixou um vídeo onde pauta o Desastre da Vale e deixa recado: "Nós não esquecemos. Nós não perdoaremos. Nos aguarde"

Publicado em 21/12/2021 às 17:01
Atualizado em

O site da Prefeitura de Brumadinho voltou ao ar após ficar inacessível na manhã desta terça-feira (21). O grupo de hackers Anonymous Brasil publicou um vídeo assumindo a invasão e deixou uma mensagem.

"Saudações, cidadãos do mundo. Saudações, cidadãos do Brasil. Tomamos mais uma vez um site para podermos conversar com vocês.

Em 2019 o mundo assistiu ao segundo maior desastre ecológico do Brasil. O rompimento da Barragem em Brumadinho causou danos permanentes à ecologia e à sociedade local, e também tomou a vida de 270 pessoas, a maior parte de trabalhadores da Vale, empresa responsável pela Barragem.

Algumas pessoas consideram este como o maior acidente de trabalho da história do brasil. Nós não concordamos. Não se tratou de um acidente. Estamos nos aproximando do terceiro aniversário da tragédia. Já sabemos, por exemplo, que a situação precária da segurança da represa era bem conhecida pelo quadro da diretoria.

Quinze dias antes do rompimento, o Sr. Fábio Schvartsman, Presidente da Vale à época, recebeu um e-mail denunciando as péssimas condições da represa e alertando para a tragédia iminente. Estas denúncias foram sumariamente ignoradas. Schvartsman chegou a ser réu em um processo movido na Justiça Mineira, devidamente anulado pelo STJ, que julgou que o caso deveria ser de competência Federal.

Enquanto isso, 16 executivos assassinos estão soltos, 3 anos após terem cometido um massacre com sua lama. Enquanto as instituições de justiça se encarregam de proteger os executivos omissos e assassinos, as 270 famílias que terão de comemorar mais um Natal com um lugar vago à mesa. precisam lutar para terem qualquer espécie de justiça. 

Diversos órgãos internacionais denunciaram, por exemplo, o acordo feito sem a presença da famílias atingidas, às portas fechadas, sem nenhum qualquer de transparência. Para os acionistas da Vale, a tragédia não parece ter feito muita diferença. As ações recuperaram seu valor após uma pequena queda poucos meses depois. Afinal de contas, enquanto há miseráveis para substituir os trabalhadores caídos, a vida não vale nada. 

Aos assassinos da Vale, e às instituições que trabalham dia e noite para garantir sua impunidade, deixamos um aviso: Nós não esqueceremos. Nós não perdoaremos. Nos aguardem..."

Para ver o vídeo na íntegra, clique aqui



O canal oficial do município já foi restabelecido, conforme matéria veiculada por nós hoje pela manhã. 

Prefeitura emite nota sobre o caso

A Prefeitura emitiu, no fim da tarde de hoje (21), uma nota oficial sobre o ataque sofrido. De acordo com o Executivo Municipal, um Boletim de ocorrência será formalizado. Até o momento a Vale S/A não se manifestou sobre o caso.


Saiba mais sobre o grupo Anonymous

Sabe-se que o Anonymous nasceu do fórum 4Chan, antes do espaço ser majoritamente ocupado por usuários de direita. Os participantes começaram a agir guiados pelo “hacktivismo”, ação hacker como forma de ativismo político e social. E, em homenagem ao soldado histórico Guy Fawkes, o grupo passou a se identificar com a máscara inspirada no filme V de Vingança.

A primeira ação notória ocorreu em 2008, quando os ativistas vazaram um vídeo interno de cientologistas apresentado por Tom Cruise. A partir disso, advogados da religião entraram com ações judiciais para derrubar os conteúdos vazados, o que motivou o grupo a espalhá-lo em sites da internet.

Após esse episódio, as ações tiveram como foco o combate a violações de direitos humanos, colaborando inclusive para o acontecimento de eventos históricos, como a quebra da censura durante a Primavera Árabe em países do Oriente Médio e do norte da África em 2010.

Sete anos depois, o grupo esteve presente em outro evento importante, agindo contra uma passeata neonazista de Charlottesville, nos Estados Unidos. Na ocasião, vídeos da manifestação foram publicados e documentos pessoais dos envolvidos foram vazados

Invasões no Brasil

O grupo é famoso, ao redor do mundo, por estes ataques. Confira outros ataques já realizados por células do grupo no Brasil:

1. Ministério da Defesa

À época candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro foi alvo da Anonymous ainda em 2018. No caso, o Ministério da Defesa foi hackeado em uma ação que visava expor Hamilton Mourão, vice-presidente, e o general Villas Bôas, ex-comandante do Exército.

"Essa é uma mensagem direta ao fascismo e autoritarismo que ameaça à democracia brasileira através de seus generais Eduardo Villas Bôas e Mourão, vulgo vice do Bolsonaro, que sempre mandam recado com viés autoritário por meio de entrevistas, querendo tutelar a democracia por meio da força e do medo", dizia trecho de uma mensagem da célula AnonOpsBR.


2. Família e governo Bolsonaro

Mais recentemente, em junho do ano passado, o Anonymous vazou dados de familiares e ministros do governo Bolsonaro, entre eles Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), Abraham Weintraub (ex-ministro da Educação), Damares Alves (ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) e outros.

Em uma "segunda leva" de ataques, o ministro da Economia, Paulo Guedes; o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel; Michele Bolsonaro, primeira dama da República e Olavo de Carvalho, tido como "ideólogo" de Jair Bolsonaro, foram atacados e tiveram dados pessoais expostos.


3. JBS e Friboi

Em maio de 2017, o Brasil viu explodir um grande escândalo de corrupção envolvendo empresas do setor de proteína animal como JBS e Friboi. O Anonymous disse, na época, ter invadido os sistemas das empresas e acessado contas de e-mail de centenas de funcionários, incluindo diretores.

"Aos trabalhadores dessas empresas, saibam que o problema não é com vocês, e sim com essa corja de ladrões, corruptos e filhos da p*** que estão acabando com o nosso povo e nosso país", dizia uma mensagem publicada pelo grupo de hacktivistas.


4. Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal

Em novembro de 2017, uma célula do grupo invadiu o site da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). A ação não visou a divulgação de nenhuma informação pessoal, tendo sido um protesto contra o fim da Operação Lava Jato.

"[...] é um ato para mostrar que o povo está alerta com a nomeação do novo diretor da PF (Fernando Segóvia) pelo presidente Temer, nesse momento em que as investigações da operação lava-jato alcançam a cúpula do PMDB, onde além do presidente Michel Temer são alvos Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) e os ex-deputados Geddel Vieira Lima e Henrique Alves que estão presos", dizia trecho de um texto no site.


5. Michel Temer

A gestão do ex-presidente Michel Temer (PMBD) foi, mais de uma vez, impactada nas mãos do Anonymous. Em maio de 2018, a célula brasileira do grupo lançou a operação #OpCaminhoneiros em apoio aos caminhoneiros (que estavam protestando na época) e contra o presidente da República. Na ocasião, os dados pessoais de Temer chegaram a ser expostos na internet.


6. Aécio Neves

Em outubro de 2017, a célula Anon H4 realizou um ataque contra o então senador Aécio Neves (atualmente deputado federal pelo PSDB). O site oficial do político chegou a sair do ar por algumas horas.

"Indignados com a atual situação política do Brasil, com os votos favoráveis ao corrupto senador Aécio Neves, vamos iniciar uma série de ataques aos sites de todos aqueles que resolveram ferrar o brasileiro devolvendo o poder ao parlamentar corrupto", disse a célula no Facebook, à época.

7. Olimpíadas 2016 no Rio

Os Jogos Olímpicos de 2016, realizados no Rio de Janeiro, sofreram com uma grande resistência de vários grupos da internet, incluindo o Anonymous. Em agosto daquele ano, o Olympic Broadcasting Services (OBS), o órgão responsável por fornecer as imagens oficiais dos campeonatos, foi hackeado pela AnonOpsBrazil.

"Já manifestamos em outros comunicados nosso repúdio à realização de megaeventos em meio às desigualdades sociais gritantes neste país. Mesmo assim, mesmo após tantas palavras, tantos manifestos ou protestos realizados nas ruas (todos sempre totalmente vigiados pela repressão, quando não reprimidos com brutal violência) o governo parece que vai seguir ignorando as vozes de seu próprio povo", pontuou a célula na época.


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