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EXPOSIÇÃO

Inhotim recebe mostra com obras de artistas bordadeiras de Brumadinho

A partir da arte-educação, 73 mulheres criam obras em bordado para expressar e ressignificar perdas e semear esperança

Publicado em 15/10/2021 às 13:30
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O Instituto Inhotim recebe, a partir de 16 de outubro, a exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança. A iniciativa reúne obras de 73 mulheres de Brumadinho que encontraram no bordado e na relação com outras mulheres caminhos para transformações individuais e coletivas. As artistas bordadeiras são alunas do projeto Semeando Esperança, iniciativa da Fundação Vale e do Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont (ICAD) que, desde 2019, auxilia moradores locais, amigos e familiares de vítimas do rompimento da barragem B1 a ressignificarem sua dor por meio de conversas e técnicas de bordado livre.

Com peças produzidas por alunas das três turmas do projeto, a exposição é composta por 16 painéis, 44 mandalas e 18 peças com formatos variados. Os painéis, bordados coletivamente em vivências psicopedagógicas, são relatos, traduzidos em linha e agulha, sobre suas trajetórias de vida, os territórios onde habitam e os pontos que as unem. Eles foram bordados sob o desenho de Demóstenes Vargas, artista do ICAD, e expressam emoções e histórias entrelaçados por diversas mãos.


A exposição reúne 16 painéis, 44 mandalas e 18 peças variadas produzidas por bordadeiras de Brumadinho. Na imagem, a obra da artista bordadeira Maria Camila do Carmo Oliveira.

Já as mandalas, produzidas individualmente pelas artistas, traduzem memórias, sentimentos e lembranças de cada uma delas. A artista bordadeira Anna Cesária dos Santos, que acaba de concluir a sua, conta que o processo trouxe autoconhecimento. “Poder retornar à minha infância por meio do bordado foi maravilhoso. Quero bordar para o resto da minha vida”, afirma. Ela se diz privilegiada com a oportunidade de participar da exposição.

Anna Cesária dos Santos é aluna da turma 3 do Semeando Esperança.

Privilegiada

“É muito especial imaginar que pessoas do mundo inteiro verão nosso trabalho”.

Anna Cesária dos Santos é aluna da turma 3 do Semeando Esperança.

Para Flávia Constant, Diretora Executiva da Fundação Vale, “mais que uma mostra, este conjunto de peças cumpre a função da arte de contribuir para a tradução do sensível. Esperamos que, através dela, novos encontros e diálogos possam ocorrer, fortalecendo laços e aprendizados”.

Segundo o diretor-presidente do Inhotim, Antonio Grassi, “o relacionamento com a comunidade é um dos focos das ações socioeducativas do Instituto Inhotim, desdobradas por meio de iniciativas que visam o acesso ao museu junto aos moradores da cidade, atividades com escolas da região, além de diversos projetos sociais para o público de todas as idades do local. E é neste contexto que surge nossa parceria com a Fundação Vale para receber a exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança, no Centro de Educação e Cultura Burle Max, em Inhotim”, afirma.

A exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança pode ser conferida até o dia 19 de dezembro, no espaço do Centro de Educação e Cultura Burle Marx, no Instituto Inhotim.

Entre linhas e agulhas, novas formas de enfrentar o luto

O projeto Semeando Esperança utiliza a metodologia A(bordar) o Ser, desenvolvida há 30 anos pelo Grupo Matizes Dumont. “Trabalhamos com capacitação de mulheres para o bordado em todo o Brasil, com projetos socioambientais e geração de emprego e renda, utilizando o bordado como ferramenta de transformação social, pertencimento de território, valorização da cultura e fortalecimento de laços afetivos”, conta Sávia Dumont, coordenadora do projeto.

Ela explica que, em 2019, a metodologia foi adaptada para o contexto de Brumadinho. “Nas oficinas, valorizamos as trocas e vivências entre as participantes que perderam entes queridos. Por terem passado por dificuldades parecidas, elas se fortalecem e juntas constroem um mesmo caminho. A dor nunca vai acabar, mas passa a ser observada de outra maneira”.

As alunas do Semeando Esperança já bordaram mais de 520 peças.

Em seu primeiro ano, o projeto contou com a participação de 44 mulheres. Com o início da pandemia, as aulas foram adaptadas para o formato virtual. Do total de participantes da primeira turma, 35 continuaram no projeto. Outras 12 chegaram em março deste ano, quando foi aberta a segunda turma. Em agosto, o Semeando Esperança teve seu público ampliado mais uma vez. O novo grupo foi aberto para qualquer morador de Brumadinho. Até o fim do ano, estão previstas mais duas turmas. Com isso, a expectativa é terminar 2021 apoiando 140 artistas bordadeiras.

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