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ALERTA DE GOLPE

Golpe do aniversário: nove pessoas são vítimas de estelionato por hora na região

A cada uma hora, nove pessoas caem no golpe; criminosos adotam novas estratégias para conseguir mais vítimas

Publicado em 04/10/2022 às 16:30
Atualizado em

Por hora, nove pessoas são enganadas por um ladrão em Minas Gerais. Entre janeiro e julho de 2022, foram 47.680 casos de estelionato virtual registrados em todo o Estado, segundo o Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). O número é 16,4% superior ao somado no mesmo período do ano passado, quando Minas contabilizou 40.961 crimes dessa natureza. E a criatividade dos criminosos tem ficado ainda mais aguçada. O novo crime é o chamado “golpe do aniversário”, com registros no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A partir do acesso a data de aniversário das vítimas, o estelionatário, fingindo ser um motoboy, vai até a casa do aniversariante e entrega um presente que teria sido enviado de surpresa. Ao entregar a lembrança (que pode ser um bolo ou um produto de beleza), o falso motoboy informa que a pessoa precisa pagar uma pequena taxa e que isso não pode ser feito em dinheiro ou via Pix.

O golpista apresenta, então, uma maquininha com o visor danificado. É assim que a vítima paga um valor muito superior ao informado anteriormente. A pessoa só percebe o golpe quando verifica sua conta. Apesar de não ter registros no Estado, a modalidade já preocupa as autoridades. “Nesse caso é importante desconfiar. Se é um presente, por qual motivo você tem que pagar?”, orienta o delegado Renato Nunes, chefe da Divisão Especializada de Investigação aos Crimes Cibernéticos e Defesa do Consumidor da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).

“Um dos casos envolve um falso motorista de aplicativo. Ele oferecia os trabalhos e, na hora do pagamento, cobrava R$ 500, e não R$ 50. Na maquininha dele, ele riscava os outros zeros e o passageiro não via o valor”, conta. Segundo o delegado, além da cobrança indevida, os criminosos têm utilizado outras estratégias para aplicar os golpes. “Em alguns casos, eles até pedem às vítimas que façam uma selfie. Eles pegam a imagem para conseguir abrir a conta bancária da pessoa”, alerta Nunes.

Delegado explica aumento

Segundo o delegado Renato Nunes, o aumento desses crimes, que no ambiente digital também são reconhecidos como fraudes eletrônicas, ocorre em função do maior acesso das pessoas à internet.

“Como as transações comerciais têm ocorrido com mais frequência na internet, isso atrai um maior número de criminosos também”, disse. Nunes acredita que as pessoas precisam ser mais cautelosas com o uso da web e com as compras feitas pela rede. “Hoje a maior parte dos anúncios de comércio ocorre no meio digital, é ali que as vendas se concentram. E, como você não tem mais o acesso físico ao vendedor ou à loja, isso implica também maior possibilidade de ser vitimado”, explica o delegado.

O levantamento da Sejusp, que considera crimes em ambientes virtuais, mostra ainda uma crescente no período de pandemia, quando medidas sanitárias de enfrentamento da Covid-19 foram adotadas e houve a restrição da circulação de pessoas e do funcionamento de estabelecimentos comerciais. Isso implicou uma maior utilização da internet para a comercialização de produtos e até mesmo de alimentos, o que deixou as pessoas mais expostas aos criminosos. Para efeito comparativo, em 2019 foram 36.727 casos.

Já em 2021, o Estado registrou 67.948 ocorrências dessa natureza. O aumento nesse intervalo de dois anos, marcado pela implantação das medidas sanitárias, foi de 85%.

Negociou a liberdade da filha

Uma dessas vítimas foi uma idosa, de 67 anos, que é cuidada pela cabeleireira Graziane Silva, de 37. Ela pagou no débito pela liberdade da sua filha, do genro e do neto, que, segundo criminosos, teriam sido sequestrados. “Ela recebeu uma ligação durante a madrugada, e eles pediram dinheiro, só que ela não tinha. Aí ela conversou por telefone com uma mulher que, supostamente, seria a filha dela”, conta Graziane, que ajuda a família nos cuidados com a idosa. Após as ligações, um homem foi até a casa da idosa, no bairro Guanabara, na região Norte de Belo Horizonte. Ele cobrou R$ 1.000 em dinheiro.

O homem também passou um valor no débito, com o cartão da vítima. “Depois eles pegaram o cartão, passaram em vários caixas eletrônicos e sacaram dinheiro”, explicou a cuidadora. O prejuízo, conforme o boletim de ocorrência, foi de cerca de R$ 5.000. No dia seguinte, segundo ela, o suspeito ligou para a idosa informando que havia devolvido o cartão. “Deixaram ele e mais R$ 50 em dinheiro na caixa de correio”, contou.

Além dessas práticas, o delegado orienta sobre a possibilidade da clonagem dos cartões. Ele conta que algumas máquinas são capazes de capturar dados das vítimas. “Com essas informações, os criminosos conseguem fazer outras compras”, explica. O crime é de conhecimento das empresas, que se esforçam para criar mecanismos para inibir a prática. “Elas sempre aprimoram os sistemas, mas este ainda é um caso possível, que acontece”, explica Renato Nunes.

Entenda o crime

O crime do falso sequestro com o pagamento pela liberdade das vítimas é configurado como estelionato. Isso porque esse tipo de delito ocorre quando alguém obtém vantagem ilícita e consegue causar prejuízo a outra pessoa, seja por meio de artimanha, que visa enganar alguém ou levá-la ao erro. A pena prevista é de prisão de um a cinco anos e multa.

De acordo com o chefe da Divisão Especializada de Investigação dos Crimes Cibernéticos e Defesa do Consumidor da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o delegado Renato Nunes, essas penas podem ser agravadas quando as vítimas são idosos ou pessoas em situação de vulnerabilidade. “A pena aumenta de um terço ao dobro quando as vítimas possuem esse perfil”, explica.

O agravamento da penalidade está previsto pela Lei de 14.155, de 2021.Para quem é vítima ou conhece alguém que passou por essa situação, o sentimento é de insegurança e de revolta. “A gente fica apreensivo porque fizeram isso com uma idosa, e também pela falta de resposta da polícia”, desabafa Graziane Silva.

O caso foi registrado em boletim de ocorrência, e a Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para apurar o ocorrido. Até o momento, ninguém foi preso, e a idosa não teve o dinheiro devolvido.

Como se prevenir

A melhor estratégia para evitar ser vítima de crimes de estelionato e de fraude eletrônica é desconfiar e adotar algumas medidas de segurança. Verificar o local de compra, além do valor cobrado, é fundamental, segundo o delegado. “É necessário observar o site em que se navega e dar preferência para empresas mais conceituadas em relação às compras. É importante confirmar os valores digitados, o extrato do pagamento e até o aplicativo bancário”, orienta.

Nunes também recomenda cautela quanto aos anúncios em perfis de redes sociais. A ilusão de que o perfil que tem muitos seguidores é seguro colabora para a ocorrência desses crimes. “Isso não quer dizer nada, muitas vezes são seguidores falsos. Eu já vi vários casos assim, pode ser tudo fictício”, alerta.

Em um dos casos acompanhados pelo delegado, uma pessoa foi vítima quando tentou comprar um cachorro em um perfil de uma rede sociail. “Ele imaginou que seria real porque a pessoa tem mais de 15 mil seguidores”, disse.

Para evitar esse caso, segundo ele, a vítima deveria ter conversado e procurado mais informações sobre quem negociava. “Seria importante ter tentado fazer contato com a pessoa, buscar saber quem está vendendo”, pontuou.

Por fim, conforme o delegado, a recomendação quando o crime ocorre é notificar, o quanto antes, a agência bancária. “Sentiu que caiu no golpe, faça a contestação no banco, não reconhecendo a transação. Quanto mais rápido, melhor”, orienta.

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